Foi no calçadão da praia que eu perdi meu coração na caixa do violão do moço.
Andava com minha saída de praia puída e pés sujos de areia, no bairro mais turístico da cidade. Observava o mar translúcido se quebrar na minha frente e apertava os olhos em uma tentativa de descobrir qual azul era o do céu e qual era o do mar. Turistas se aglomeravam na frente do McDonald’s ouvindo uma voz e violão se misturar com o barulho das gaivotas e o som do mar se quebrar na praia.
Um moço um pouco mais velho do que eu, estava de pé na porta do Méqui, com a caixa do instrumento no chão, microfone na boca, violão junto ao peito e o sorriso mais lindo do mundo no rosto. Seus dedos corriam rápido sobre as cordas e seu corpo balançava conforme a melodia. Ele olhava para cada um dos turistas que paravam para ouvi-lo e sorria agradecendo a presença. Quando seus olhos pousaram nos meus, senti algo diferente. Ele me olhou por mais tempo do que os outros turistas e abriu um sorriso levemente maior. Como se já tivesse me esperando. Não deu outra, meu coração oferecido despencou do meu peito direto na caixa do violão do moço, sem pedir licença para as moedas.
Sentei no banco com o queixo caído apreciando o moço tocar Beatles com os olhos cravados nos meus. Tentei ficar para duas músicas, juro que tentei, mas meu coração eufórico não deixava. Inclinava a cabeça de um lado para o outro imaginando um futuro com o Moço do Violão. No primeiro acorde da segunda música já o via acordando em um domingo de manhã do meu lado, consegui vê-lo nitidamente pegando seu violão e cantando para mim com uma voz de sono.
Leitor, ele era o amor da minha vida. E eu tinha que fazer algo a respeito. Levantei e fui direto para o Méqui passando por ele, sentindo o cheiro do perfume misturado com o suor do sol do meio dia.
Entrei decidida.
Com o a coragem que estava em mim, pedi no balcão um papel e uma caneta. Na folha, escrevi meu nome, telefone e minha conta no Instagram. Junto com alguns corações, é claro.
Atrelada a esperança de um final feliz, dobrei a folha com todo o cuidado. Sa do Méqui e me dirigi ao amor da minha vida, sem pensar duas vezes. Leitor, não estou brincando quando digo que consegui ver nitidamente o cúpido em pessoa segurar na minha mão quando joguei o papel e alguma moedas na caixa do violão.
A sorte estava lançada e minhas bochechas coradas. Algo me dizia que ele responderia. Não sei se era pelo sorriso ou pelos olhos brilhantes, mas estava certa que dessa vez, pelo menos dessa vez, o amor sorriria para mim.
Ele não respondeu.
Mas eu não desisto fácil. Desse dia em diante, todo sábado de manhã eu pegava o busão e o trem, corria dez quilômetros, para encontrar o Moço do Violão. E toda vez ele estava lá, sorrindo puramente e com os olhos reluzindo “All You Need Is Love” dos Beatles. Toda vez eu ouvia duas músicas e ia ao Méqui pedindo um papel e uma caneta me agarrando na esperança que daquela vez, daria certo.
Nunca falhei.
Ele nunca me respondeu.
Isso durante meses.
Voltei para São Paulo desolada, desacreditando totalmente no amor e acreditando fielmente que o meu papel caia diretamente em um buraco negro.
Semana passada, senti uma saudade dele. E em uma leve olhada no Instagram,
descobri que ele é casado e espera um filho.
Descobri também, que o meu coração é oferecido demais.
Com todo o meu amor,
como sempre,
S. Ganeff