Ontem Mãe Bióloga presenciou uma tragédia que a destruiu por completo, sua amada coleção de temperos exóticos caiu aos seus pés aos pedaços.
Mãe Bióloga se arrisca na cozinha desde que conheceu o Menino Máximo. Ela tinha uma coleção linda com diversos temperos exóticos que colecionava desde a viagem para a Califórnia. Guardava os potinhos de vidro com a tampa prateada como se fossem as joias da coroa real, os usando apenas quando vinha visita e mesmo assim, apenas quantidades pequenas para não acabar.
Quando cozinhava algo que realmente gostava, sempre olhava para mim, com os olhos brilhando de entusiasmo, mexendo a panela dizendo:
— Vamos colocar um tempero?
Como se fosse fazer com que a gororoba que cozinhava com tanto carinho virasse algo digno de uma estrela Michelin, com uma minúscula, porém mágica, pitada de tempero extremamente exótico.
Mas ontem, limpando a cozinha, Mãe Bióloga pegou sua vasta coleção e ao tentar limpa-la se desequilibrou e todos os potinhos caíram em câmera lenta no chão.
Quebrando um a um.
Junto com o coração de Mãe Bióloga.
Ela viu a cena na frente de seus olhos. Observou seus preciosos potinhos baterem com o impacto no chão se estilhaçando, liberando o preciosíssimo tempero milagroso.
Eu da sala, ouvi a voz desesperada ecoar pela casa dizendo:
— Não, não, não. Não! NÃO!
Mas já era tarde demais.
Todos os temperos exóticos nunca antes usados se misturaram com os pedaços de vidro no chão.
Sem deixar um único sobrevivente.
Olhei para o rosto de Mãe Bióloga e vi sua dor se espelhar para fora de seus olhos. Ela olhava para o chão com uma mão na boca e outra no peito e olhos arregalados. Pasma com o que havia acontecido.
Ela me olhou com os olhos cheios d’água e apontou para a cena do crime. Incapaz de dizer uma palavra.
— Mãe…
— Um assassinato… Uma tragédia — ela disse com a voz tremula.
E às vezes é assim.
Guardamos tanto algo com todo o cuidado, com medo que acabe, que a gente esquece de usar. E uma hora, tudo é perdido em cacos no chão, e nos perguntamos se valeu a pena guardar tanto.
Com um buraco enorme no coração, Mãe Bióloga vai passar um mês suspirando sua perda.
Com todo o meu amor,
como sempre,
S. Ganeff