— E você? Já se apaixonou?
Respirei fundo levando alguns segundos para responder.
— Não… não sei… acho que sim… talvez, mas não me lembro muito bem.
Ele riu balançando a cabeça.
— Você não se lembra como é se apaixonar?
Todos me olhavam como se achassem graça.
— Não… não me lembro dele. Tipo, me lembro do nome, como nos conhecemos, todas as tardes que passamos juntos, dos jantares em restaurantes e tudo mais…, mas não me lembro dele, sabe? Me lembro que gostava das sardas que contornavam seus olhos, mas não me lembro de como eles brilhavam no luar. Lembro que gostava de ficar sentindo o cheiro dele em minha roupa, mas não me lembro como era, devia ser meio amadeirado, mas não sei mais. Não lembro como soava sua voz e sua risada, eu lembro que conseguia ouvir de longe, lembro que preenchiam qualquer cômodo, mas não sei te explicar como. Me lembro que brincava horas com seus cabelos e traçava com os dedos suas tatuagens, mas não lembro como eram, da cor que tinham e nem de sua textura na ponta dos meus dedos. Não lembro do beijo que me fazia perder a cabeça e muito menos o gosto que ele tinha no fim da noite.
Abaixei a cabeça tentando me lembrar dos detalhes, mas uma única imagem apareceria em minha mente.
— Queria me lembrar mais — continuei em uma voz tão baixa que era mais fácil ouvir as minhas batidas cardíacas sufocadas. — Só lembro de como seus olhos perderam o brilho, sua pele empalideceu e seu sorriso desapareceu quando eu disse que não o queria mais. Lembro muito bem da destruição que causei. Das lágrimas guardadas em lencinhos brancos, de seu rosto ir ficando lentamente vermelho e seus olhos mais inchados. Lembro que, quando disse que o deixaria ele perdeu todas as palavras que tinha na ponta da língua.
Levantei a cabeça.
— Acho que nunca me apaixonei, não. Eu lembraria de tudo menos de seu rosto quando parti seu coração.
Com todo o meu amor,
como sempre,
S. Ganeff