Não sei te dizer qual foi o melhor dia da minha vida, até porque não vivi todos, (espero), mas posso te dizer qual foi o dia que mais me mudou, que me transformou completamente: foi a primeira vez que eu senti o fogo da liberdade ser aceso enquanto o coração era raptado pela euforia e minha caixa torácica mudava de forma.
Com dezesseis anos embarquei para um destino que nunca tinha ido antes sem conhecer absolutamente ninguém, sabendo que minha passagem de volta expiraria em seis meses. Segurei minhas malas com força crédula que lá estava o que eu mais precisava: coragem e alguns restos de saudades.
Senti a imensidão do mundo me tocar aos beijos de vento quando me vi em meio a um grupo com o coração dominado. Olhando em volta, percebendo que do nosso lado, não havia ninguém para nos dizer o que não fazer, caímos na gargalhada quase tão alta quanto as batidas do coração, sem acreditar por completo onde nossos pés estavam pisando.
Em meio a risos e sorrisos, paramos de sentir o peso da passagem de volta no bolso da calça jeans e descobrimos que a de ida valia muito mais.
O pôr do sol vermelho nos contava que agora, era só respirar fundo, vestir o que trouxemos e aproveitar a vista. O sol beijava a cidade em despedida e nos abraçava em um gesto de recebida, mostrando que agora, fazíamos parte dela também.
Enquanto explorava o mundo novo que me aguardava, minhas costelas dilatavam como se abrissem um espaço na minha caixa torácica para guardar tudo que estava por vir.
Meu coração foi sequestrado, e tenho certeza que, as cordas que o amarraram ainda estão soltas em algum canto andando entre os turistas e tendo como parceiro de crime os raios de sol.
Mas justamente onde o coração ficava, algo começou a queimar em meu peito. Uma chama que começou lá no aeroporto, como uma vela perto da cortina, prestes a causar um incêndio a qualquer momento. Vendo o pôr do sol, a deixei queimar. Deixei levar minhas cortinas às cinzas e abrir a janela escancarada mostrando para quem quisesse ver, o que eu guardava ali dentro. O fogo foi tão intenso que levou o que antes era confortável, e criou sob as cinzas um reino para a chama brilhar.
Gosto de chamar essa chama de liberdade.
E liberdade é uma palavra que, você não sabe o peso de sua definição até sentir o incêndio marcar suas costelas.
Daquele dia em diante, prometi que agora que essa chama estava acessa, nada apagaria o fogo que aquece minha caixa torácica. Prometi que, para sempre ela brilhará tão intensamente quanto aquele pôr do sol que assistiu de camarote o fogo queimar o peito de quem ousasse acender uma vela perto da cortina.
Com todo o meu amor,
como sempre,
S. Ganeff
A descoberta da liberdade, é maravilhosa realmente nos sentimos com modificações interior, mas para mim o mais legal foi descobrir que a liberdade não existe ela vem acompanhada de responsabilidade, mas que em meu coração sempre foi e será liberto. Parabéns pelo lindo texto.
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Que lindo! Sim a descoberta da liberdade é muito marcante, não é? O difícil é lidar com ela, vem com o preço da responsabilidade mesmo!
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