Meu amado leitor, vou ser extremamente sincera com você, honestamente eu não precisava do dinheiro que ganhava trabalhando. Estava lá por prazer. Porque eu queria.
Vou explicar direito.
Durante o meu intercâmbio, fiquei muito próxima dos australianos. Passava cada segundo com eles, o que me proporcionava uma experiência da vida dos locais.
A questão é que todos trabalhavam. Menos eu. E apesar de ir para a escola, estava pouco me lixando, acredito que durante 6 meses estudei uma única vez e falhei em biologia. Ou seja, estudar não era uma opção.
Poderia ir para a praia ou sair mais com os outros intercambistas. Mas decidi ter uma experiência completa. Decidi que iria trabalhar.
Nunca tinha trabalhado.
Fiz o meu currículo, que no caso era pseudo, já que tinha o meu nome, idade, matérias da escola e de referência, a minha Host Mom. Mas eu estava confiante. Não seria a falta de currículo que me impediria. Minha Host Mom tinha sua fé em mim misturado com a vontade de me ver fazendo alguma coisa, decidiu, portanto, me ajudar imprimindo meu pseudo currículo na melhor folha de papel. Era laminada, com um brilho especial. Assim, linda. Tão bonita que guardei uma até hoje, um dia eu te mostro. E de verdade, acredito que foi essa folha que me deu emprego, afinal, minhas habilidades eram bem questionáveis.
Com 50 cópias de baixo do braço, peguei o busão e fui para o único e melhor shopping de Gold Coast.
Leitor, nunca entrei em tanta loja na minha vida. Fui para todas. T O D A S. Revirei o shopping de cima à baixo. Até que meu currículo dourado acabou. Havia apenas uma única folha.
Uma única folha que tinha que ser entregue na melhor loja. Em algum lugar que eu realmente quisesse.
Com os pés doendo de tanto andar, cheguei do outro lado do shopping. Era uma área externa com um riozinho, espreguiçadeiras e palmeiras. Tudo em tons de azul Tiffany. Foi observando esse lado paradisíaco do Pacific Fair que eu me deparei com uma baita oportunidade.
Outback.
E cá entre nós, tem algo mais australiano do que trabalhar no Outback?
Olhei para a minha chance com os olhos brilhando. Subi as escadas com o coração na mão. Assim que cheguei no topo, me deparei com um bar grande, janelas altas, um pôr do sol reluzente. Um sonho em tons de dourado e marrom.
Falei com a responsável que pegou o meu currículo examinando a folha, (óbvio). E disse em claro e bom tom:
— Você é brasileira?
— Sou!
Caro leitor, isso é um encontro raro. Dois brasileiros se encontrando a 15.569 km de distância de casa com olhos brilhando e o coração na mão, já é algo pré-destinado. Um encontro casual do destino com o acaso.
Ela disse que falaria com o gerente, mas já estavam procurando alguém.
Entrei no ônibus de volta para casa. Entrei. Nem tinha sentado quando meu telefone toca. Um cara do Aubeck Steakhouse perguntando se eu queria fazer um teste na sexta.
Era quinta.
Meio atordoada com aquele sotaque difícil que nem a Cultura Inglesa em pessoa entenderia, disse que sim e estava tudo combinado.
Desliguei o telefone.
Olhei para a janela com um pensamento constante.
De onde era aquele cara?
Leitor, entreguei o meu pseudo currículo em tantas lojas que eu já havia perdido a conta. Juro para você, nem sabia mais para onde eu iria fazer o teste na sexta. A sorte é que, de tudo que o cara falou eu peguei a parte do Steakhouse, o que me salvou, porque se não fosse por isso estaria perdida.
Fui para o Outback na sexta, com a roupa que o cara havia pedido com aquela dúvida no coração.
Será que eu tô indo para o lugar certo?
No fundo tava, mas o mistério fazia toda a diferença.
E simples assim, consegui o melhor emprego do mundo.
Tem certas coisas na vida que simplesmente acontecem. Não conseguimos entender exatamente o porquê, mas elas estão lá. Simplesmente.
Queria ser hostess? Não.
Gostei? Olha leitor, é muito difícil admitir isso, mas esse foi o melhor emprego de toda a minha vida. E me dói pensar que nunca vou ter um igual.
Não sei te dizer exatamente o porquê de ter virado hostess, mas eu sei que não foi por acaso. Só simplesmente aconteceu.
Com todo o meu amor,
como sempre,
S. Ganeff
Um comentário em “COMO ME TORNEI HOSTESS DO OUTBACK”