Nunca vi alguém tão louco por tabaco quanto você, que ama com uma ferocidade cada bituca me faz até sentir ciumes do seu maço de cigarro 100 que você leva para todo lado no bolso.
Queria que, no momento que me colocasse na sua boca e me apertasse com força contra os seus lábios, puxasse de mim toda a toxina, química nuclear, tabaco entre tantas outras coisas boas, para dentro de você sem medo do que pudesse causar, sem se preocupar com a tosse que te perseguiria.
E eu, te dominando por completo por dentro, fosse direto para o seu peito, dando uma passadinha rápida por uma artéria ou outra, mas desaguando no seu pulmão que agora, já está mais que comprometido.
Mesmo assim, mesmo sabendo de todos os males escritos na embalagem, fosse se deixar levar pelo prazer do momento e pela sensação única de satisfação completa.
Fechasse os olhos e com toda a calma do mundo, jogasse para fora da sua boca a leve fumaça branca que se dissipa com o vento para a noite fria de outono deixando como último registro de presença, um sorriso satisfeito nos lábios muito bem apreciado pelas estrelas, que já viram essa mesma cena dezena de vezes antes.
E sem pensar muito, aproximasse a mão mais uma vez para perto da boca e repetisse o processo como um belo europeu que és, me tragando sem pressa, me sentindo arder devagar contra os seus dedos.
Só que eu não tenho uma embalagem para te alertar do que eu posso ou não causar, não tenho uma lista completa de efeitos colaterais, não venho em packs de oito e nós dois sabemos que muitas palavras podem me definir, menos arder com calma.
Mas como eu já te disse antes, se até os anjos se deixaram levar por um cigarro clandestino, como que um mero mortal como você pode recusar uma oferta tão bem legalizada?
E talvez seja isso que te assuste, a falta de alertas específicos, quais males trago a sua saúde e as minhas substâncias químicas que você ainda não conhece muito bem.
Ou talvez, você se preocupe em colocar em risco mais órgãos vitais e só sobre o rim para te manter vivo, já que o pulmão é dominado pelo tabaco, e o coração e cérebro já tem o meu nome encravado.
Parte de você deve saber que esconder o cheiro de cigarro da sua mãe é muito mais fácil do que encobrir o trajeto dos meus beijos e isso é assustador porque, bom, como explicar a ela que você além de ser fumante, é agora apaixonado?
Pode ser também que você tenha medo de se viciar como se eu fosse mais um pouquinho de cigarro e pode ser que surja aquele medo de que eu não me vicie em você, como você se viciou em mim.
Mas em qualquer que seja o caso, baby, saiba que eu, que nem fumo, te trago no peito.
Com todo o meu amor,
Como sempre,
S. Ganeff