Andava como se o manto pendurado em seus ombros tocando o chão com gentileza levando a poeira presa no tecido vermelho. Limpando seus próximos passos.
Seu peito estufado deixava claro que, apesar do tecido parecer ser pesado, ele carregava com leveza e não deixava por um minuto sequer seus ombros entregassem o cansaço que sentiam por carregar o mundo nas costas.
Colocava a mão no cinto da calça como se tivesse pronto para apanhar uma espada a sua direita. Ameaçava pegá-la com olhos ferozes caso alguém o desafiasse, apesar de saber que ninguém seria louco o suficiente para isso.
Olhava para quem passasse pela porta com o nariz empinado, tomava cuidado para não deixar a coroa deslizar para fora da sua cabeça, ele ouvia por aí que muitos queriam roubá-la.
Tudo que tocava era com desprezo, fazia acreditar que suas mãos já estiveram diversas vezes mergulhas em bacias de ouro, e que em seu suor, saía gotas de prata.
Olhava para a cidade como se conhecesse de cor, quem o via acreditava que ele estudara os mapas de seu reino durante anos, sabendo o que acontece a cada esquina decorando exatamente qual rua pegar para voltar ao castelo.
Fazia acreditar que em suas veias corria sangue azul, que seus olhos conheciam verdadeiros diamantes, que suas roupas eram feitas à mão e que seu coração fazia promessas grandiosas para um dia assumir um poder que muitos sonhariam, mas só ele saberia levar com maestria.
Fazia acreditar que para ser rei, só faltava o sangue real.
Mas quem o conhecia de fato sabia que não passava de um atendente da loja de fantasias. Mas por acreditar tão fielmente em seu figurino, ganhou prêmio de “funcionário do mês” três vezes seguidas.
Com todo o meu amor,
como sempre,
S. Ganeff