Estava de noite e eu simplesmente não conseguia mais. Não conseguia fingir um amor que não existia só pela ideia de ter alguém que gostava de me exibir.
Vira e mexe eu me lembro desse dia, pelo o que eu vi nos olhos dele na tela do celular. Não disse a ele que nunca o havia amado, que não conseguia mais olhá-lo nos olhos.
Isso seria cruel demais.
Apenas disse que não conseguia.
Vi o coração dele ser partido ao meio.
Vi o mundo dele se quebrar e a dor transbordar em lágrimas, nariz escorrendo e olhos vermelhos.
Confesso que roubei o ar que ele soltava pela boca e voei enquanto ele afundava como uma ancora. Fiz das lágrimas um oceano para nadar. Ouvia uma tempestade se formar do outro lado da ligação e me bronzeei no meu sol mesmo assim. Estendi um sorriso em meio ao choro, consertei o meu coração com os pedaços perdidos de outro.
Confesso que me arrependo um pouco.
Me arrependo por não ter muita paciência para o chororô e eu sei que fui fria. Mas nada chega aos pés do arrependimento que tive por não ter feito isso antes.
Depois de um tempo, eu vejo que a compaixão que eu tive com o Coração Partido, não foi a mesma que ele teve comigo. Ele fazia questão de quebrar o meu todo santo dia, enquanto eu, me espremia para não arranhar o dele.
Ninguém te conta isso, leitor, mas as vezes, é preciso quebrar o coração de alguém, para consertar o seu. Alguns dizem que isso é amor-próprio. Eu discordo, acho que é auto respeito.
E se você não se respeita, leitor, quem vai?
Então, sim. Eu quebrei um coração. Sim, eu sou muito julgada por isso. Mas pelo menos eu consertei o meu.
Antes abrir a boca sobre um Quebrador de Corações, tenha certeza que não havia um coração quebrado antes.
Se um dia você cruzar com o Coração Partido na rua, ele vai falar que nunca teve seu coração quebrado, no máximo “caiu do cavalo”, e aí você já aprende duas coisas:
- A ferida é bem maior do que aparenta. E deve ter uns pus aqui e ali.
- Isso é autoproteção. Todos nós deveríamos aprender um pouco mais.
Pode não parecer, mas
Com todo o meu amor,
como sempre,
S. Ganeff