VOCÊ REALMENTE NÃO SENTE NADA?

Vem cá, você realmente não sente nada?

Depois de tudo que aconteceu, depois de tudo que a gente viveu, você não sente nada? Eu já te disse que eu sinto muito, mas honestamente, não sentir nada é um sinônimo de falta de coração.

A gente viveu. Querendo ou não, compartilhamos histórias em conversas despretensiosas sempre acabando na risada, tínhamos um desejo de ser alguém grandioso um dia, queríamos um futuro onde as linhas de nossos horizontes se cruzavam. 

A gente falava por horas, a gente se divertia, não se divertia?

Eu te conhecia de cor e salteado. Sabia o que te fazia sorrir, qual sabor de bolacha era sua favorita, a cor de seus tênis prediletos, a música que você cantarolava constantemente, a dor que seu peito latejava. Eu que limpava suas lágrimas, lembra? Conseguia listar cada um dos seus defeitos e, acredite, ainda consigo te analisar sem muita dificuldade. 

Não é possível que eu não te faça sentir nada. Você não sonha mais comigo? Nem mesmo um pesadelo? Vai me dizer que, quando ouve a nossa música não pensa em mim? Não me diga que nem no chuveiro eu não apareço em sua mente.

A gente não se fala mais, mas espero que pelo menos venha uma pontada de dor em seu peito quando alguém fala o meu nome. 

Espero que o som da minha voz ainda ecoe na sua mente, que a minha risada ainda vibre as paredes do seu quarto, que o choro que você implantou em meu rosto, ainda doa. 

Espero que quando você ouça a nossa música você pense em como a gente dançava pela cozinha às duas da manhã, como a gente ia ao supermercado de pijama comprar pipoca, como a noite se tornava mais curta quando a gente jogava conversa fora na mesa do bar.

Não quero voltar para a sua vida, mas você simplesmente não sentir nada comprova o meu maior medo:

que você de fato nunca sentiu.

Com todo o meu amor, 

como sempre, 

S. Ganeff