Disquei 9090 antes do seu número.
Desculpa, eu sei que a mensagem antes de você atender é chata e você acha que a ligação é da cadeia, mas a saudades eram tantas que não me importei em pagar esse mico.
Eu precisava ouvir a sua voz, saber que você está bem em algum lugar, entende?
Queria ouvir o som que estou tão acostumada por meio do chiado do telefone e correr o risco de te perder quando entrar em um elevador ou túnel.
Queria saber que mesmo pelo telefone, você ainda está comigo.
Já tava contando os trocados e pesquisando no Google como pegar um ônibus para a sua casa quando você me atendeu com aquela voz de ocupado, mas disponível para mim.
Com aquele “alô?” tão sonoro que me tirou o ar fazendo com que qualquer um que estava perto de mim se perguntasse quem estava do outro lado da linha para me fazer perder o chão em poucos segundos de ligação.
Falei com você por duas horas e quarenta e sete minutos enrolada nos cobertores pensando que se os lençóis fossem as linhas dos estados que nos dividem, dobraria cada ponta com cuidado para ter você mais uma vez do meu lado.
Parte de mim vai apodrecendo aos poucos pensando que a última memória que tenho sua, é da sua voz solitária ecoando distante da minha. Aquela voz abafada, chiada e sufocada. Aquela voz que sempre termina com um suspiro de quero mais, mas agora não dá. Aos poucos, vou até me esquecendo de como ela era viva quando sussurrava pessoalmente no meu ouvido.
O problema, amor, é que a sua presença deixou de ser marcada pela campainha e é agora anunciada pelo toque Marimba do celular. Isso por um tempo sem data de validade ou passagem. Mas nós dois sabemos que parte de nós sempre acaba, à moda antiga, quando o telefone beija o gancho.
Queria pegar a minha bicicleta de pneus carecas, bater na sua porta e ficar aí, vendo aos poucos como é o seu novo mundo. Mas eu sei que apesar de você de amar, não foi o suficiente para ficar.
Com todo o meu amor,
como sempre,
S. Ganeff
s.ganeff 